Análise de Digimon Story: Time Stranger

A marca Digimon nasceu no Japão, em 1997, como uma variação da ideia do Tamagotchi, os bichinhos virtuais da Bandai que eram sucesso mundial. A Bandai queria algo parecido, mas voltado para o público masculino, com foco em batalhas em vez de apenas cuidar do pet, foi assim que surgiu o Digital Monster, um dispositivo portátil em formato de tamagotchi de luta que seria mais adequado para meninos, os V-pets. Nele, os jogadores podiam treinar criaturas digitais e conectá-las para batalhar. Esse brinquedo fez tanto sucesso que logo expandiu para outras mídias.

Com a expansão para outras mídias chegou a hora dos jogos receberem essas adaptações até que em 2006 foi lançado para Nintendo DS Digimon Story, dando origem a franquia de jogos a qual o jogo abordado aqui pertence, porém em 2016, foi lançado Digimon Story Cyber Sleuth, trazendo uma reinvenção da série e popularizando de vez a franquia, após vários anos desde o último lançamento a Bandai nos agracia com Digimon Story Time Stranger.

Digimon Story Time Stranger carrega bastante coisa de seu antepassado, não que isso seja ruim, muito pelo contrário, é um ótimo ponto de acerto, visto que Cyber Sleuth caiu na graça do povo e convenhamos, em time que está ganhando não se mexe, porém ainda sim, apresentando algumas pequenas mudanças para melhoria de qualidade de vida e uma nova história instigante permitindo ao jogador embarcar em mais uma épica jornada para salvar tanto o digimundo, quanto o mundo real.

História

Em Digimon Story Time Stranger, logo de início nos é apresentado os dois protagonistas que podemos escolher: Dan Yuki e Kanan Yuki, e então somos apresentados ao contexto que somos agentes do ADAMAS, uma organização que investiga fenômenos paranormais e anomalias que afetam o mundo digital e o mundo humano. 

Sendo apresentado o fato de que Shinjuku está isolada, com uma grande muralha ao redor e começam tremores, ao começar a se infiltrar nos metrôs para entrar no perímetro da muralha, é possível ver os primeiros Digimons aparecendo e então, para enfrentarmos esses obstáculos o ADAMAS nos fornece um Digimons dos 3 que são oferecidos, cujo esses são: Patamon, Demidevimon e Gomamon, a escolha desses iniciais por assim dizer, irá ser mais abordada na parte em que é tratada das mecânicas de gameplay, ao prosseguirmos, vemos uma garota que diz nos conhecer e que nos questiona se não lembramos da mesma, e nessa parte o mundo real, tem um clima bem pesado e com o passar desse trecho inicial, após dois Digimons gigantescos se digladiarem, acabamos indo parar no santuário do guardião e ao tentar defender o ovo de onde nasceria esse guardião acabamos caindo e ao acordar, nos damos conta que estamos no passado, logo não me aprofundarei na história para não conter spoilers que acabem com a experiência, porém é uma história bastante instigante, com vários mistérios a serem revelados e é uma boa empreitada para a franquia Digimon.

Gameplay

Digimon Story Time Stranger é um JRPG com fortes inspirações em títulos clássicos da Bandai e até na fórmula dos Shin Megami Tensei. A progressão é dividida entre narrativa investigativa e exploração de dungeons digitais, o que cria uma mescla interessante: você alterna entre interações sociais, missões de investigação e batalhas por turnos. O ritmo é relativamente linear, mas oferece liberdade suficiente para quem gosta de treinar e evoluir Digimon sem pressa.

O sistema de batalha segue o modelo tradicional de turnos com possiblidade de acelerar o combate, mas com nuances estratégicas, o core padrão do combate é um trio de Digimons: você pode levar até três Digimon ativos e 3 reservas e 3 convidados que geralmente são inseridos pela história, o que abre margem para diferentes combinações, Tipos e Afinidades: existe uma lógica de “triângulo de atributos” (Vacina, Dados e Virus), houve uma implementação nova de uma mecânica de stagger em bosses que em momentos das lutas eles começam a carregar e aparece uma barra pra quebrar a estamina.

Com as informações dos atributos agora é possível explicar a escolha de iniciais, Patamon como dados, tendo Vantagem sobre vacina e fraqueza a vírus, Gomamon sendo vacina, tendo vantagem sobre vírus e fraqueza a dados e o Demidevimon sendo vírus tem vantagem sobre dados e fraqueza por vacina, por fim cabe ao jogador escolher qual será o seu nessa pedra papel e tesoura, ainda somada a tipos elementais (fogo, água, planta, etc.). Isso faz com que a escolha de time seja crucial contra chefes ou encontros mais fortes.

Em Digimon Story Time Stranger ainda há habilidades especiais: cada Digimon possui técnicas únicas, muitas vezes baseadas em ataques clássicos do anime, o que dá identidade e peso nostálgico às lutas. Ordem de Turnos: a barra lateral mostra a sequência de ações, permitindo planejar buffs, debuffs ou até acelerar a vez dos seus Digimon. É um sistema simples de aprender, mas com profundidade suficiente para quem gosta de min-maxing.

O sistema de Digievolução é um dos pontos mais viciantes do jogo, onde é possível ramificar a evolução de um Digimon em múltiplas formas, sendo possível regredir (de-digievolução) e avançar novamente, acumulando status e liberando novas opções. Cada linha evolutiva exige pré-requisitos (Patente de Agente e atributos específicos).

Para complementar o sistema apresentado anteriormente em Digimon Story Time Stranger é justamente a quantidade de Digimons disponíveis para recrutar, evoluir e usar em batalha. O jogo oferece uma biblioteca extensa de criaturas digitais, que atende tanto aos fãs mais nostálgicos da franquia quanto aos que acompanham as temporadas mais recentes do anime.

Logo de início, o número de Digimons surpreende, isso garante uma enorme diversidade e rejogabilidade, já que dificilmente dois jogadores vão montar times idênticos ao longo da campanha.

Outro ponto positivo é a forma como o jogo valoriza o ciclo de evolução e involução. Para alcançar Digimons mais poderosos, muitas vezes é preciso voltar a formas anteriores e refazer o caminho, o que incentiva a experimentação. Essa mecânica torna a quantidade disponível ainda mais relevante, porque amplia a sensação de progressão e personalização.

No entanto, para os fãs mais dedicados, fica a sensação de que ainda poderia haver mais opções. Algumas espécies icônicas da franquia ficaram de fora, principalmente quando se compara com o catálogo gigantesco de Digimon em outras mídias. Ainda assim, o elenco disponível é bastante sólido e variado, contemplando desde os clássicos como Agumon e Gabumon até Digimons mais obscuros e de temporadas posteriores.

No geral, a quantidade de Digimons em Time Stranger é um dos pontos altos do jogo. Ela reforça o aspecto de “colecionar e treinar”, que é a alma da franquia, e garante que cada jogador tenha a liberdade de montar sua equipe favorita dentro de um leque realmente vasto.

Também ao interagir com os seus Digimons, é possível alterar o tipo de personalidade deles, que influenciam diretamente com a sua árvore de habilidades de agente, a sua principal, que é o Elo da Lealdade, buffa todos os Digimons e dão acesso a novas artes cruzadas (buffs, debuffs ou ataque de dano usando os poderes dos Digimons em campo), mas também buffando Digimons com certos tipos de personalidade, Elo da bravura abrangendo os Corajosos/Cuidadosos/Destemidos/Implacáveis, Elo da Filantropia, englobando os Amorosos/Dedicados/Tolerantes/Superprotetores, Elo da Amigabilidade os Solidários/Sociáveis/Amigáveis/Sagazes e por fim, o Elo da Sabedoria com os Astutos/Táticos/Perspicazes/Malandros, dentre esses buffs, é possível aumentar o ganho de EXP, aumento de atributos, ignorar porcentagem de armadura entre outros.

Em Digimon Story Time Stranger, como um bom JRPG há dungeons e exploração, as dungeons são corredores com layout relativamente simples, focados mais em batalhas aleatórias do que exploração complexa. Porém, a estética do mundo digital, de vários mundos colidindo em um só dá identidade ao jogo, design é funcional, mas pode se tornar repetitivo para quem busca variedade de cenários. É possível visitar várias áreas diferentes do mundo digital através dos trilhos, elemento esse fundamental do mundo, e aqui mais uma vez é usado, uma forte lembrança aos fãs de Digimon frontier, também em certo momento é possível fazer uma viagem com o Whamon igualmente tai e seus amigos fizeram em Digimon adventure 01.

Em alguns locais dessas dungeons, é possível achar um lugar seguro, o Teatro Limiar, onde podemos comprar itens de batalha e também achar um dos sistemas essenciais para evoluir os Digimons, as Digifazendas, funciona como um hub de gerenciamento onde é possível treinar Digimons automaticamente em farms, usar os Digimons como “fazenda de itens” ou acelerar a evolução e ainda ganham EXP igual os Digimons que ficam em seu inventário.

Imersão

Esse tópico abrange várias coisas do jogo que resultam na atmosfera, música, gráficos, direção de arte e nostalgia, começando com a direção de arte, em parte para se iniciar a história, tudo é abordado de forma semelhante aos episódios obscuros da série animada de Digimon Adventure 02 e posteriormente sendo mais aprofundado em Digimon Tamers, onde os digimons eram tratados quase como algo de horror.

Em Digimon Story Time Stranger, um dos Digimons que é convidados a nossa party, o Aegiomon, lembra bastante o Guilmon do Takato, um dos protagonistas de Digimon Tamers, o jogo inteiro parece uma grande obra que homenageia toda a franquia de Digimon.

A mecânica de recrutar Digimons, treinar, digievoluir e até regredir faz referência direta ao ciclo natural visto no anime e nos antigos Digivices. A ideia de que não existe um único “caminho perfeito” de evolução homenageia a diversidade da franquia, mostrando que cada criatura pode assumir diferentes formas, dependendo do jogador. É praticamente uma versão moderna daquilo que os fãs viviam com os dispositivos portáteis.

Além disso, a variedade dos Digimons reforça o aspecto nostálgico. Cyber Sleuth reúne criaturas de várias gerações, colocando lado a lado monstros icônicos como Agumon e Gabumon com Digimons de temporadas posteriores, celebrando a evolução da franquia ao longo dos anos. Essa junção de eras cria uma sensação de “encontro de gerações”, algo que os fãs de longa data reconhecem de imediato.

 Tanto com alguns sprites que mostram as imagens pixeladas dos Digimons, parecendo que vieram direto dos V-Pets, tanto com paralelos traçados com as animações, outra referência forte que é possível pegar é que em determinado momento, enfrentamos o Titã Parrotmon, remetendo diretamente a uma das primeiras aparições dos monstrinhos virtuais, um curta produzido em 1999, em que Greymon lutava com um Parrotmon e o visual era bem grotesco, igualmente como esse jogo se trata em alguns momentos.

Sem contar também na presença dos jogos de cartas de Digimon que ao que consigo lembrar, se popularizou bastante a partir de Digimon World 3 lá do PS1 e que com certeza foi se tornando mais acessível ao público com o passar do tempo

Os gráficos em si são um espetáculo à parte, os Digimons têm ótimas texturas, os personagens principais e até mesmo os locais em que passamos durante a história, porém em momentos específicos, é possível perceber que houve um certo desleixo em alguns locais com texturas em baixa resolução e até mesmo em momentos chaves da história mostrados em cenas, porém se trata de algo ocasional.

Digimon Story Time Stranger, tem ótimas soundtracks, seja para batalha, em locais que permitem uma exploração, havia momentos em que eu me permitia contemplar o mundo digital e só ficar ouvindo a música que me era entregue, um dos ótimos acertos que esse game apresentou.

É possível também ver que se dedicaram a aprofundar mais ainda a mitologia e hierarquia de poder no mundo Digimon, em que certo momento é possível ver os Digimons sagrados no santuário do guardião, acrescentando mais desenvolvimento de mundo e apresentando mais um pouco do que os fãs gostariam de ver em produções de Digimon.

Conclusão

Digimon Story Time Stranger consegue equilibrar nostalgia e modernidade em uma experiência que agrada tanto veteranos da franquia quanto novos jogadores. A jogabilidade mistura elementos de JRPG clássico com um sistema de captura e evolução profundo, mantendo o ciclo de exploração e batalhas sempre recompensador. Apesar de alguns momentos de repetição, a narrativa envolvente e o carisma dos Digimons garantem que a aventura se mantenha cativante do início ao fim. Para quem busca um RPG sólido com identidade própria e que respeita o legado da série, Time Stranger é, sem dúvida, uma das melhores portas de entrada para o universo digital.

Digimon Story: Time Stranger

Um jogo que abraça os novos fãs que darão uma chance ao jogo e que reacenderá a chama que queima no coração de vários que envelheceram lembrando de quando viam Digimons na televisão, seja Adventure, Tamers, Frontier, de qualquer que tenha sido o ponto de partida para o conhecimento dos bichinhos virtuais, esse jogo com certeza é pra você. Deixe que a fantasia tome de conta e viva mais uma vez a aventura de ser um digiescolhido.

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