Hell Is Us: vale a pena explorar Hadea?

-Essa análise não contém nenhum spoiler da lore principal do jogo ou de pontos chave, já que isso estragaria totalmente a experiência.

-Plataforma jogada: PC

-Tempo de gameplay: 15 horas

-Escrito por: Adrian, fundador da Midnight Respawn e ADM da DungeonZone

Hell is Us se passa no país fictício de Hadea, que enfrenta uma devastadora guerra civil. Em meio ao caos, surgem criaturas sobrenaturais, quimeras monstruosas que não podem ser feridas por armas convencionais.

O jogador assume o papel de Remi, um jovem natural de Hadea que foi contrabandeado ainda bebê para fora do país. Agora, ele retorna à sua terra natal em busca de reencontrar seus pais e desvendar o mistério por trás das quimeras. Durante a campanha, temos inúmeros mistérios para solucionar, pessoas para ajudar e mais da história da terra de Hadea para descobrir por conta própria.

O jogo se parece com Persona 5, onde contamos nossa jornada por meio de um interrogatório

Jogabilidade:

A jogabilidade de Hell Is Us está separada em 2 principais núcleos. Exploração e Combate.

Inicialmente, o combate não me interessou nem um pouco, com mecânicas extremamente simples e desinteressantes. Mas, ao longo do jogo, o combate se torna bem mais engajante, com habilidades únicas de cada atributo (esferas límbicas) que podem ser equipadas em cada arma. O jogo também tem um sistema de recuperação de HP e Stamina após um certo número de ataques que consegue te manter no combate por mais tempo, tornando-o bem mais dinâmico e rápido.

Aos amantes de souls, vão estranhar um pouco o combate no começo, pois ele é bem mais rápido e dinâmico que soulslike, já os amantes de jogos hack n slash se sentirão em casa.

Já a exploração, tinha me interessado bem mais no começo, com enigmas interessante e um mundo misterioso que te convidava a descobrir mais sobre a sua lore. Alguns enigmas são MUITO difíceis, com uma lógica absurda onde você tem que prestar muita atenção aos documentos coletados e aos diálogos dos NPCs ao seu redor. Cheguei a passar horas em um só enigma pois não entendia a lógica por trás dele. Ao longo do tempo, a exploração foi ficando absolutamente desinteressante para mim, pois os personagens do jogo são muito qualquer coisa, mas já falo sobre eles.

Quem gosta de muito quebra cabeça em jogos, vai gostar bastante da dinâmica que Hell Is Us apresenta, já que muitos de seus puzzles são bem complexos e você pode passar horas tentando resolve-los. Ele também recompensa BASTANTE a exploração, já que vários ataques fortes estão em áreas completamente opcionais que só são desbloqueadas com uma exploração mais detalhada.

História:

Infelizmente, a narrativa de Hell Is Us é, de longe, o ponto mais fraco da experiência. E digo “infelizmente” porque esse é justamente um jogo que se apoia de maneira intensa nos diálogos e na interação com personagens para dar sentido à sua jornada. Quando um título depende tanto de narrativa, mas não consegue oferecer figuras cativantes ou diálogos minimamente envolventes, o impacto na imersão é inevitável.

O protagonista, Remi, é o maior exemplo desse problema. Ele é a personificação da falta de carisma: apático, sem emoção e incapaz de gerar qualquer empatia com o jogador. Suas falas e atitudes não transmitem personalidade, tornando-o um protagonista vazio e desinteressante. Essa ausência de magnetismo prejudica profundamente a progressão da história, porque se torna difícil se importar com seus objetivos ou mesmo com os mistérios que deveriam motivar a jornada. Tudo o que acontece ao seu redor soa distante, quase irrelevante, e isso acaba esvaziando o peso da narrativa.

Nosso protagonista cacheado com 0 de personalidade

Os personagens secundários, que poderiam compensar essa falha trazendo diversidade e profundidade ao enredo, infelizmente não se saem muito melhor. O núcleo de coadjuvantes é pequeno e, ainda assim, raso em termos de desenvolvimento. Suas participações raramente vão além de diálogos expositivos, usados apenas para conduzir side quests ou preencher lacunas na trama. Não há camadas de complexidade, não há arcos emocionais que despertem interesse. Eles estão ali, mas não conseguem deixar marca alguma.

O resultado é uma história que, apesar de ter uma premissa interessante: um país devastado por guerra civil e assolado por criaturas misteriosas, acaba desperdiçando seu potencial. O mundo de Hadea é intrigante, cheio de elementos que poderiam render uma narrativa memorável, mas o enredo não consegue explorar essa riqueza. A sensação é de que o cenário é mais carismático que as próprias pessoas que habitam nele.

Em um jogo que claramente coloca tanto peso em sua atmosfera e enigmas, a ausência de personagens fortes e uma trama envolvente se torna um fardo. No fim, a história de Hell Is Us não chega a ser horrível, mas é insossa, esquecível e incapaz de prender a atenção de quem joga, algo que, para um título tão dependente de narrativa, é um erro grave.

Ambientação:

Hell Is Us apresenta uma ambientação densa e opressiva, que lembra bastante jogos de terror psicológico. A sensação constante é de isolamento e perigo iminente: lugares quase sempre abandonados, silenciosos e mergulhados em sombras criam um clima de desconforto que acompanha o jogador do início ao fim. O mundo de Hadea é retratado de forma brutal, marcado pela destruição e pela presença constante das quimeras. Florestas devastadas e templos repletos de corpos espalhados pelo chão não deixam dúvidas sobre o domínio dessas criaturas sobre o país.

Um cenário que você verá bastante durante a jogatina. FLORESTA!

Grande parte da experiência se desenrola dentro de templos antigos e abandonados, cenários que misturam mistério, opressão e um forte senso de decadência. Esses locais não servem apenas como corredores de passagem: eles escondem enigmas, passagens secretas e perigos inesperados. Os inimigos, muitas vezes, não se revelam de imediato, preferindo se camuflar na escuridão ou esperar atrás de paredes e colunas, prontos para surpreender o jogador com ataques repentinos. Essa imprevisibilidade faz com que a tensão nunca diminua, exigindo atenção constante a cada passo.

O design dos templos desse jogo é algo surreal

Um dos elementos mais importantes da exploração é o uso do drone, cuja lanterna funciona como um guia em meio às sombras. A luz não só ajuda a iluminar o caminho em ambientes claustrofóbicos e cheios de detalhes, como também contribui para aumentar a imersão, já que obriga o jogador a vasculhar cantos escuros e observar cada detalhe com cuidado. Isso torna a exploração menos passiva e muito mais estratégica, já que cada espaço pode esconder tanto um enigma quanto um perigo à espreita.

Trilha Sonora:

A trilha sonora de Hell Is Us é totalmente original, sem recorrer a músicas licenciadas, e cumpre muito bem o papel de reforçar a atmosfera sombria e opressiva que o jogo propõe. Ela não tenta roubar a cena, mas sim se fundir ao cenário e às situações, criando uma imersão constante. Nas batalhas, por exemplo, a música ganha intensidade, elevando a tensão no momento certo, enquanto nas partes de exploração ela permanece mais contida, quase sussurrada, porém sempre presente.

Até em cenários como esse o jogo nunca fica sem trilha sonora

Algo que me chamou atenção é que, mesmo sem ter uma faixa específica que fique martelando na cabeça após desligar o jogo, a trilha nunca soa genérica. Pelo contrário, ela funciona como uma espécie de pano de fundo emocional: você pode não se lembrar de uma melodia exata, mas sente que aquela música só poderia estar ali. Além disso, o jogo nunca cai em completo silêncio, mesmo nos trechos mais tranquilos, há sempre uma camada sonora sutil acompanhando a jornada, o que dá uma sensação de continuidade e mantém o clima carregado.

Em resumo, é uma trilha sonora que talvez não brilhe de forma independente, mas que se destaca justamente por ser discreta e eficiente. Ela não busca protagonismo, mas sim amplificar o peso da narrativa e da ambientação, e nisso acerta em cheio.

Desempenho:

O desempenho de Hell Is Us é, sem dúvida, um dos pontos fortes da experiência. O jogo se mostrou extremamente bem otimizado, alcançando taxas superiores a 120fps de forma praticamente constante, mesmo rodando na configuração gráfica mais alta com o FSR ajustado para o modo Qualidade. Durante toda a minha jogatina, não percebi quedas significativas de FPS, nem mesmo nos momentos mais intensos de combate, quando a tela estava repleta de efeitos visuais, partículas e movimentação frenética. Essa estabilidade transmite confiança e mostra o cuidado da equipe em entregar um título que aproveita bem o hardware disponível, garantindo fluidez e imersão do início ao fim.

Surreal

No entanto, esse aspecto positivo é prejudicado por um problema sério: a ocorrência de crashes constantes. Em vários momentos, o jogo simplesmente fechou de forma abrupta, o que acabou me fazendo perder progresso importante em mais de uma ocasião. Esse tipo de falha técnica pode ser extremamente frustrante, principalmente em um jogo que valoriza exploração e resolução de puzzles complexos, já que a perda de tempo investido desanima o jogador a seguir em frente. Embora seja compreensível que, por se tratar de um lançamento recente, ainda não existam drivers otimizados ou correções específicas, o impacto desses erros não pode ser ignorado.

De certa forma, o ótimo desempenho gráfico e a estabilidade de FPS acabam entrando em contraste com a instabilidade causada pelos crashes. Enquanto por um lado temos uma experiência fluida e bem polida em termos técnicos, por outro, a confiabilidade do progresso fica comprometida. É um detalhe que pode ser relevado no futuro, com atualizações e patches, mas que durante a minha análise se mostrou um fator bastante incômodo.

Conclusão

Hell Is Us é um daqueles jogos que despertam sentimentos mistos. Ele consegue apresentar ideias interessantes e até mesmo ousadas em alguns aspectos, mas ao mesmo tempo tropeça em pontos fundamentais que impedem a experiência de alcançar todo o seu potencial.

Entre os aspectos positivos, a ambientação é, sem dúvidas, o maior destaque. O mundo de Hadea transmite um constante clima de desolação e mistério, reforçado por cenários sombrios, templos abandonados e florestas carregadas de tensão. O jogo sabe usar o silêncio e a escuridão a seu favor, e isso faz com que cada passo seja acompanhado de uma sensação de alerta. A exploração também tem seus méritos, principalmente para aqueles que gostam de desafios complexos: os enigmas exigem atenção aos mínimos detalhes, recompensam a curiosidade e estimulam uma investigação minuciosa, ainda que em alguns momentos possam se tornar excessivamente complicados. Outro ponto positivo é a trilha sonora original, que, mesmo sem buscar protagonismo, se encaixa perfeitamente no clima proposto e garante uma imersão constante. O combate, apesar de começar de maneira simplória, evolui ao longo da campanha e consegue surpreender, especialmente com o sistema de habilidades e a dinâmica entre ataque e recuperação de stamina.

No entanto, os problemas não podem ser ignorados. A história, que deveria ser o fio condutor da jornada, acaba sendo o elo mais fraco. O protagonista, Remi, carece completamente de carisma, tornando difícil criar empatia ou envolvimento com sua trajetória. Os personagens secundários também não acrescentam profundidade, servindo mais como peças expositivas do que como figuras relevantes dentro da narrativa. Essa superficialidade compromete não apenas a imersão na história, mas também a motivação do jogador em prosseguir para além da ambientação e dos enigmas. Outro ponto negativo são os problemas técnicos: embora o jogo esteja muito bem otimizado e rode com ótima performance, os crashes frequentes durante a jogatina comprometem a fluidez da experiência e podem causar frustração, especialmente quando se perde progresso importante. No geral, Hell Is Us é um título que entrega momentos intensos e genuinamente imersivos, mas que também sofre com escolhas narrativas pouco inspiradas e falhas técnicas que pesam na experiência. Para quem valoriza uma ambientação sombria, puzzles elaborados e um combate mais dinâmico, o jogo pode ser uma boa pedida. Já para quem espera personagens marcantes e uma narrativa envolvente, talvez a jornada em Hadea não ofereça tudo aquilo que poderia. É uma obra que demonstra potencial e coragem em sua proposta, mas que ainda deixa a sensação de que poderia ter ido além.

Um grande obrigado a Nacon pelo acesso antecipado do game

Nota Final:

Segue a Dungeon Zone no X, RAPAZ!