Metroid Prime 4: Beyond – Um FPS completo e um retorno triunfante

O último grande exclusivo do ano da Nintendo está entre nós e você confere agora a nossa análise dessa "lenda urbana" da Big N.
O que é Metroid Prime 4: Beyond?

Metroid Prime 4: Beyond é o quarto jogo da saga Metroid Prime e um dos jogos mais aguardados pelos fãs da Nintendo. Neste jogo, Samus Aran é transportada para o planeta inexplorado Viewros e recebe uma missão de seus habitantes, os Lamorn. Ela luta pela sobrevivência enquanto confronta seu rival Sylux, que guarda um rancor contra ela e a Federação Galáctica.

História

A história de Metroid Prime 4: Beyond tem momentos bem marcantes e identidade própria, mas sinto que ela não é tão coesa quanto poderia ser. Há trechos extremamente envolventes, como a exploração dos segredos de Viewros e o uso dos novos poderes psíquicos, mas essas qualidades acabam dividindo espaço com escolhas que quebram o ritmo, algumas das quais não posso comentar para evitar spoilers. Uma dessas escolhas é o subdesenvolvimento de Sylux que, apesar de ser apresentado como uma peça central na trama, seu papel no jogo é surpreendentemente pequeno e superficial, deixando a sensação de que ele estava lá mais por obrigação do que por impacto real na história. Isso enfraquece o conflito central e impede que a narrativa atinja o peso dramático que poderia ter.

Exploração

A exploração é simplesmente o coração de Metroid Prime 4: Beyond e mantém a identidade clássica da série. O jogo aposta em áreas grandes e bem definidas que funcionam como verdadeiras dungeons, reforçando a sensação de isolamento que sempre marcou a série. Embora exista backtracking, ele é mais contido do que em Prime 1, o que torna o progresso mais direto sem eliminar o sentimento de descoberta.

Puzzles e Upgrades

Os puzzles são bem construídos e se integram naturalmente ao design dos cenários, ainda que sigam uma estrutura bastante familiar. Os novos poderes psíquicos adicionam variações interessantes aos desafios, como mover objetos, redirecionar disparos e resolver seções focadas no uso da Morph Ball, mas raramente apresentam soluções realmente inovadoras. Os upgrades do traje continuam satisfatórios e incentivam a exploração.

No Vale do Sol, o jogo introduz pequenas mini-dungeons opcionais que dão upgrades após completar um desafio rápido. Embora essas seções sejam divertidas e funcionais, elas são excessivamente fáceis e carecem de profundidade, soando mais como uma tentativa de replicar a fórmula das shrines de The Legend of Zelda: Breath of the Wild e Tears of the Kingdom do que como uma adição verdadeiramente significativa ao jogo.

Combate

O combate mantém a fórmula clássica da Metroid Prime, com foco em lock-on, strafing e uso estratégico de armas e mísseis. Em Metroid Prime 4: Beyond, Samus está extremamente ágil e responsiva, contando com novas esquivas e melhor mobilidade geral. Há inimigos que exigem abordagens específicas, o que mantém os confrontos interessantes, mesmo que o jogo ocasionalmente caia em sequências de ondas repetitivas. As batalhas contra chefes, no entanto, são um destaque consistente, todas conseguem ser bem elaboradas e divertidas de enfrentar.

Hub Aberto e Moto

A inclusão da Vi-O-La, a moto da Samus, é bem executada do ponto de vista técnico e narrativo, já que os controles são responsivos e sua presença na história parece natural. O problema não está no veículo em si, mas no Vale do Sol, o grande hub aberto que conecta as principais regiões do jogo e de onde vem 90% dos meus problemas com o jogo. O hub foi inspirado em campos abertos de jogos como Ocarina of Time e tenta imitar ideias modernas de mundo aberto, mas acaba se mostrando vazio, pouco inspirado e carente de atividades realmente interessantes.

Grande parte do tempo passado no Vale do Sol se resume a atravessar longas extensões de areia enfrentando sempre os mesmos tipos de inimigos, com interações extremamente básicas, arruinando o pacing do jogo e fazendo o jogo se prolongar de forma inorgânica. E para piorar, o jogo ainda atrela uma missão principal à exploração dessa área, exigindo que Samus colete cristais verdes espalhados pelo mapa para preservar a história da civilização Lamorn. Na prática, essa tarefa não passa de um filler, quebrando o ritmo da campanha e contrastando negativamente com o excelente design das áreas principais. Apesar de não ser grande o suficiente para se tornar insuportável, o hub é utilizado em excesso e dá a sensação de uma tentativa superficial de capturar a magia dos mundos abertos modernos, sem oferecer a profundidade necessária para sustentar essa proposta.

Gráficos e Direção de Arte

Visualmente, Metroid Prime 4: Beyond é um dos jogos mais impressionantes já lançados pela Nintendo. A direção de arte se destaca pelo uso sofisticado de iluminação, cenários ricamente detalhados e uma arquitetura que reforça constantemente a atmosfera solitária da série. Os ambientes de Viewros são variados e cheios de identidade, com enquadramentos cuidadosamente pensados que tornam a exploração ainda mais impactante. Os efeitos clássicos do visor da Samus retornam com força total, como o embaçamento em temperaturas extremas e as gotas de chuva batendo na tela, aumentando significativamente a imersão. Mesmo sem competir com os jogos mais avançados de PC ou outros consoles, o resultado final é impressionante para um jogo da Nintendo.

Performance

Em relação ao desempenho, Metroid Prime 4: Beyond entrega uma experiência técnica exemplar. No Nintendo Switch 2, a plataforma em que joguei, o jogo roda de forma impecável em 4K a 60 fps, com a opção de 120 fps mediante redução de resolução, demonstrando um nível de polimento raro nos títulos da empresa. Já no Switch original, apesar do downgrade visual perceptível e tempos de carregamento iniciais mais longos, o jogo mantém 60 fps estáveis e apenas pequenos problemas pontuais, como leve pop-in no deserto. Ambas as versões são totalmente jogáveis e bem otimizadas, garantindo que o retorno da série não fique restrito ao hardware mais novo.

Metroid Prime 4: Beyond

Metroid Prime 4: Beyond é um retorno forte e confiante para uma das séries mais importantes da Nintendo, acertando em cheio quando se apoia nos pilares que sempre definiram a franquia: exploração atmosférica, level design cuidadoso, combate refinado e uma apresentação audiovisual impressionante. Nos seus melhores momentos, o jogo não apenas honra o legado da trilogia original, como também entrega uma experiência bem memorável.

 

No entanto, as escolhas de design questionáveis, especialmente o Vale do Sol e sua estrutura de hub aberto, acabam prejudicando o ritmo da campanha e quebrando parte da imersão. Somado a uma história que não explora todo o potencial de seu antagonista, Prime 4 deixa a sensação de que ficou muito na zona de conforto e que poderia ter ido ainda mais longe.

 

Mesmo assim, trata-se de uma experiência excelente, recomendada tanto para fãs veteranos quanto para novos jogadores.

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