Hoje estamos próximos do lançamento de um milagre (a sequência desse jogo) e nada mais justo do que falar sobre um game sinistro que eu amo de coração, talvez eu o ame até demais, e o que dizer sobre esse game? Um jogo que provavelmente você não gostaria de jogar hoje em dia, não é? Imagine gostar de um jogo que foi lançado incompleto e entupido de bugs, e a própria empresa acabou pouco tempo depois do game ser lançado, mas com toda a certeza, não deixa de ser um game fantástico, diferente, cheio de personagens carismáticos e uma história de outro nível, eu decidi apenas falar sobre o game sem contar qual é o plot principal, sem dar dicas de side quests, esconderei o máximo de informações possíveis sobre as missões do game, claro, com exceção de uma coisa ou outra que realmente mereça ser mencionada, tentarei não dar nenhum spoiler, saiba que é um game tão específico e ao mesmo tempo um tanto peculiar, não só por ter lançado próximo ao grandioso Half Life e sendo ofuscado por ele mas também por hoje ser considerado um clássico dos RPGS mesmo com todos os seus inúmeros problemas.
Antes de começar a falar de vez sobre Bloodlines, eu tenho uma pergunta a fazer, O que torna um jogo bom? Seria sua história? Suas mecânicas de jogo? Ou talvez a sua comunidade? Deixo essa pergunta em aberto, não acho que seja algo que alguém saiba responder a ponto de garantir a completa convicção de quem quer que seja a pessoa que deseja ouvir a resposta para essa pergunta tão seleta, nem mesmo creio que seja algo tão simples a ponto de ser respondido com uma simples frase.

Vampire The Masquerade Bloodlines foi desenvolvido pela Troika Games, a publisher era a Activision e o game foi lançado para PC em 2004. A Troika Games era um estúdio americano que iniciou seus trabalhos geralmente focados no mundo dos RPGS, seu período de atividade foi de 1998 até 2005.

Mas enfim, o que é Vampire The Masquerade Bloodlines?
Well, whatever, nevermind, Vampire é um RPG/Action em primeira pessoa (você pode jogar em terceira pessoa também, é só mudar a câmera) onde o jogador é nada mais nada menos do que um fledgling, ou seja, um vampiro recém formado, no game o player se encontra em um mundo com regras diferentes das quais estamos habituados e nele existem diversas comunidades com seus próprios ideais e imposições sociais.

Os pilares da sociedade noturna são: A lei da Máscara e a Camarilla. Ah, já ia me esquecendo dos Anarquistas que são o “contrário” desses pilares por assim dizer.
Tentando resumir esses ditos pilares fica mais ou menos assim:
A lei da Máscara: Vampiros e seres sobrenaturais não existem, ninguém pode saber sobre os seres das trevas, se você demonstrar seus poderes em público, alimentar-se de seres humanos deixando que alguém saiba, ou sair matando as pessoas a todo momento você estará cometendo uma violação da máscara, além de atrair caçadores de vampiros, ah, detalhe, se o jogador violar essa lei suprema por três vezes será sentenciado a morte! Um fato interessante que esqueci de mencionar é que você precisa se alimentar, se por acaso o seu personagem ficar muito tempo sem consumir sangue ele vai acabar entrando em um estado de transe chamado de “Frenzy”, tecnicamente você vai endoidar, seu vampiro vai sair correndo desesperadamente procurando por uma presa e geralmente dependendo de onde estiver vai acabar violando a Lei da Máscara e se encontrando em uma situação terrível.

A Camarilla, o que falar sobre essa facção? Por onde eu começo? Bem, resumindo, digamos que eles estão no poder por muito tempo, eles já foram expulsos pelos Anarquistas tempos atrás e acabaram retornando mais fortes para Santa Monica e região, mas aonde você se encaixa nisso? Eu explico!
Eu aposto que enquanto estava vivo você não gostava de ser governado e ter que prestar serviços a alguém superior não é? Pois é… Digamos que no “pós vida” é assim também, a Camarilla tem o intuito de unir os vampiros e controlar territórios, gerenciando os clãs e criando leis para evitar a violação da Máscara e impor um limite ao poder dos outros grupos vampirescos, e claro, proteger a sociedade noturna, as vezes até mesmo dos próprios indivíduos se é que me entende.

Os Anarquistas, o que dizer sobre eles? Eles lutam contra a Camarilla, eles querem que cada vampiro faça o que quiser, que cada um cuide da sua própria vida, Camarilla? Quem precisa de regras quando se é um vampiro não é mesmo?

Agora que você já sabe quais são os pilares do mundo sombrio ou “World of Darkness” como os fãs da franquia o chamam, é hora de entender qual é o seu papel nessa história.
Você escolhe o clã que quer jogar e é claro, dependendo do clã escolhido a sua vida será mais difícil, por exemplo, cada clã tem suas habilidades específicas e modos de jogar, se você escolher o clã Ventrue, vai ter uma vida mais fácil quando o assunto é persuadir os outros ou até mesmo controlar a mente dos mesmos, caso escolha um Malkavian você será um vampiro lunático que não fará sentido algum e ainda assim terá uma experiência completamente diferente das demais, é possível até mesmo conversar com a televisão do seu apartamento, aparentemente ser maluco tem suas vantagens, e se por algum motivo, sabe-se lá porque você iria escolher um Nosferatu, bom, digamos que você estaria ferrado, e teria que se locomover pelos esgotos e evitar ao máximo que as pessoas te vissem justamente por causa da sua aparência. Os pobres coitados geralmente vivem no esgoto ou em tuneis subterrâneos debaixo de cidades. O que importa é que ninguém os veja, geralmente são desprezados pelos demais clãs vampiros.

Depois de você escolher o clã é hora de entrar no mundo das trevas, bem, você já entra de cabeça e sendo condenado a morte porque aparentemente o seu “criador” te transformou em um vampiro sem ter permissão, sim os vampiros tem que ter permissão da Camarilla para gerar outros vampiros, e graças a alguns eventos por aí você fica vivo e agora é claro, como todo bom RPG, você será o peão, sim, você vai entregar mensagens por aí, fazer o trabalho sujo e ser o capacho de vários poderosos vampiros, o game ainda lhe da a liberdade de realizar as missões de diversas formas, podemos usar as sombras para matar nossos inimigos sem sermos vistos ou podemos ir full berserker e quebrar o pau com geral. No meu caso eu gosto de usar a persuasão, fazer os inimigos de palhaços, é, a vida é mais fácil quando você é capaz de sair enganando e seduzindo para conseguir o que quiser.

Só pra você ter uma ideia de como a exploração de cenário é algo bem útil, já no começo do game se você for bom de lábia pode descolar uma boa quantia de dinheiro no segundo NPC que encontrar.
O game é dividido em áreas relativamente grandes, são cidades na verdade, em cada uma delas você terá missões secundárias, primárias e claro, o clássico NPC vendedor, sim, você pode comprar armas, remédios, sangue (É, claro, você é um vampiro, queria o que?) e outras coisas.

Falando em cenários do game, bom, tem alguns locais icônicos e que dificilmente quem joga esquece, como os Clubes noturnos, um hotel gigante cheio de gente rica e seguranças, o enorme arranha-céu do Príncipe da Camarilla, o barzinho dos Anarquistas, o edifício enfeitiçado do clã Tremere, dentre vários outros.

Um lugar específico que chama a minha atenção é um hotel abandonado chamado Ocean House.

O antigo hotel é assombrado e muita gente inclusive usava cheats para escapar do terrível destino de precisar entrar no assombroso hotel, se não me engano em 2004 a GameSpy declarou o nível “Ocean House Hotel” como Quest do ano.

O level design do game é muito bem feito pra época, aquela sensação de um lugar sombrio, sociedade em declínio e o sentimento de que todo mundo esconde algo é bem frequente. Os diálogos com os NPCS são muito interessantes e adicionam muito ao clima do jogo, cada personagem relevante para a história tem suas próprias características e suas próprias intensões sempre tentando levar a melhor e usando o jogador para atingir seus objetivos.

Algo que eu acho fantástico no game é o modo como a lore é contada, vários vampiros sussurram entre si e espalham algo que você acaba por ouvir sem querer e fica ecoando na sua cabeça onde quer que vá. Gehenna.
Afinal, o que é Gehenna?
Gehenna é simplesmente o apocalipse vampiro. Os Kindred como são chamados aqueles que foram transformados, acreditam que os anciões (Quanto mais velho um vampiro for mais poderoso ele é, ou seja, a primeira geração tende a ser extremamente poderosa comparada a quarta geração por exemplo)levantariam de seus túmulos e começariam a devorar os demais vampiros até que não sobrasse nada,e a própria história do jogo gira em torno da repercussão dessa velha estória, ou lenda urbana por assim dizer.

Outra coisa fascinante é que o game lhe da escolhas, e você sempre fica pensativo quanto as escolhas feitas, se você erra em alguma coisa durante a missão dada a pessoa que lhe deu a missão vai ficar irritada com você, e rolam escolhas até quando o fim do jogo estiver próximo por exemplo, e claro, dependendo do que escolher terá um fim bem triste e merecido por assim dizer.

As habilidades do personagem variam bastante, desde invadir computadores até ter força extrema, e elas variam muito dependendo do clã escolhido, você consegue aguentar mais porrada, dar mais dano com armas de fogo ou intimidar os oponentes.
Cada clã tem algumas habilidades únicas e só é possível aprende-las sendo do respectivo clã, essas habilidades são chamadas de Disciplinas.

Ah, algo que eu gostaria de mencionar é que existem outros grupos de vampiros com intenções diferentes dos Anarquistas e da Camarilla, eles não tem ligação com as demais facções e são considerados inimigos, seus ideais, convicções e objetivos são completamente diferentes, por eras eles batalham entre si e contra a própria Camarilla pelo poder. Durante o game o jogador terá que enfrentá-los, digamos que não temos escolhas nesse caso. O mundo de Bloodlines é repleto de criaturas sobrenaturais, vampiros, lobisomens, fantasmas, mortos-vivos dentre outros, é meio que uma surpresa falar sobre isso em um jogo de vampiro, mas ao mesmo tempo é bem natural o modo como esses seres convivem nesse mundo, diferente de outros universos por aí.

O combate do game é a parte que eu menos acho divertida, é uma ironia dizer que o game é bom mas o seu combate não é lá essas coisas, certo? Bem, é meio difícil de explicar, os controles são bem simples, nada muito complicado, as animações das habilidades são muito bem feitas para a época, e é super legal poder ver o seu domínio mental em ação fazendo os inimigos matarem uns aos outros ou até mesmo fazendo com que os mesmos cometam suicídio, ou entrem em um estado de transe ficando vulneráveis, também é possível se transformar em uma besta selvagem e acabar com todos ao seu redor.
O jogo mescla bem entre a ideia de usar armas de fogo e armas melee em um game com tema vampírico, mas é aí que a coisa começa a apertar, o combate com facas, tacos de baseball e até mesmo braços de pessoas mortas é bem horrível, é difícil de acertar seus inimigos e as animações para ataques corpo a corpo são feitas de um jeito estranho, você parece uma batata tendo um ataque epilético, mas é graças aos itens de cura que você consegue sair de diversas situações apertadas, geralmente quando você tenta fazer algo sem ser visto, a coisa desanda rapidamente e inúmeros inimigos ao redor vem pra cima de você de uma vez, é claro, se você for adepto de um clã que use invisibilidade a coisa fica mais fácil, mesmo assim ainda não da pra dizer que o “game-play” do jogo é perfeito, porque realmente não é, está longe de ser e nos primeiros momentos em que se tem o controle sobre o personagem já da pra imaginar que vai dar merda.

(to em perigo)
Apesar do combate ser bem “desengonçado” todo o resto do game te faz se sentir bem com isso por mais bizarro que possa parecer, os diálogos, as interações com os clãs, a ambientação e o modo como você é tratado faz tudo estar perfeitamente ligado, as vezes eu me sinto como se estivesse vivendo em um universo que nasceu de Pulp Fiction e From Dusk Till Dawn, calma aí, antes que você pense em me xingar por falar uma barbaridade dessas, deixa eu explicar uma coisa e ligar os pontos, pra isso vou precisar repetir algumas coisas pra você entender melhor. O game te passa uma vibe de anos 90, todo mundo tem algo a esconder, ninguém se importa com os outros, quando você acha que a sua situação não pode piorar ela piora mais ainda, você vive recebendo ordens dos outros e não pode fazer nada quanto a isso, você acaba trabalhando de matador de aluguel noturno, você se torna um agiota, guarda-costas, amante, brinquedinho de clube noturno, e se bobear ainda vira um capacho das poderosas vampiras do game, os diálogos são muito bem escritos lembrando um pouquinho as conversas engraçadas e naturais dos filmes do Tarantino, tirando as expressões faciais um pouco exageradas do game, algo que eu considero “Marcas do tempo”, e em alguns momentos durante a ação a coisa desanda lembrando justamente o famigerado From Dusk Till Dawn.

Isso é só um pouco do que você vai ver no game, e existe algo que eu preciso mencionar, sempre é preciso usar o diálogo para se dar bem e quando isso não funciona é um Deus nos acuda, mas sabe, é divertido, é algo que eu gosto, é simples e ao mesmo tempo complicado. Acho que de uma forma inconsciente esses podem ser os motivos de um game assim ficar na sua cabeça, mesmo que as vezes seja um pouco árdua a tarefa de ter que lidar com bugs ou com o combate meia boca, e isso faz com que eu me pergunte novamente: O que faz um game ser bom?

Resumindo, é um game incrível, com diversas possibilidades, várias jogatinas com personagens de clãs diferentes tornam o game mais divertido e imprevisível, é uma pena não ter tantas opções de personalização do personagem mas isso não interfere no game. Os bugs infelizmente são uma realidade, existem diversos mods feitos por fãs que mantiveram e ainda mantem o game vivo até hoje, um clássico dos rpgs, e o amor que a comunidade demonstrou com o jogo durante todos esses anos fez até com que surgisse um novo game que atualmente está em desenvolvimento.
Em vários lugares, já li diversas vezez que Vampire The Masquerade Bloodlines é um game “cult”, eu pessoalmente odeio esse termo, acho até que é muito mal usado e não faz jus de forma alguma ao game. A única coisa que posso dizer com certeza é que Bloodlines é algo diferente.

Mantenho minha opinião de que hoje, em 2025, dificilmente você gostaria do game. O mundo evoluiu e a indústria dos jogos mudou, tanto para melhor quanto para pior, a busca incessante pelo melhor visual possível em um game acarretou no fator de que gráficos impulsionam vendas, e em alguns casos por exemplo, de jogos medíocres e sem conteúdo, o público prefere pagar quantias exorbitantes em um conteúdo deveras patético e simplório, e parte das vezes repetitivo, onde um mero olhar mais atento capta o sentimento de que essa realidade triste e padronizada entre alguns empresas por aí esconde a ganância de seus desenvolvedores e também não da pra ignorar que em alguns casos os games parecem ser desenvolvidos de forma em que o jogador precise gastar dinheiro para avançar mais rapidamente em algum cenário evitando um grinding desnecessário, ou seja, a pessoa paga para deixar o jogo menos chato. Na minha cabeça isso é uma prática desnecessária, e fora o tão polêmico sistema “Loot box” chamado de “mecânica surpresa” por empresas as quais vocês já conhecem muito bem.

O que eu quero dizer com isso?
É bem simples, as vezes esquecemos que os jogos são feitos para nos distrair dos problemas, eles são um lazer, não uma obrigação, jogos são o que são, ou deveriam ser ao menos, hoje com a “internet a todo vapor” você é julgado por preferir algo, por ter algo, ou até por não ter algo, seja um jogo ou um console, um exemplo disso é a famosa Console War, a guerra de consoles que vive distribuindo desinformação e desavença entre plataformas.

Eu sinto falta dos tempos em que eu não sabia de nada disso e apenas estava lá se divertindo em um jogo cheio de bugs, mas sem precisar pagar mais nada pra aproveitar o game do jeito que ele é.

Pontos Positivos:
- História muito bem escrita.
- Ambiente fantástico.
- Diálogos muito bem pensados.
- Uma lore aprofundada.
- Escolhas e consequências.
- Você realmente precisa prestar atenção aos diálogos ou vai se perder as vezes, ou até mesmo se ferrar por causa disso.
- Existem inúmeros mods que enriquecem muito o game além de remover bugs.
Pontos Negativos:
- Diversos bugs.
- Cenários um pouco confusos as vezes.
- Pode haver bugs durante quests fazendo com que você precise carregar o save novamente.
- O Combate corpo a corpo pode ser um pouco duro as vezes.
- A inteligência artificial pode ser bem lerda em alguns momentos.

Enfim, acredito que é um game fantástico e que vale muito a pena, ele foi feito para quem gosta de uma história intrigante e obscura saindo um pouco do padrão que a gente está acostumado a ver. Eu recomendo o game, claro, desde que você possa jogar com a mente aberta e não se importe tanto com bugs ou gráficos, eu diria que embarcar nesse game é como uma odisseia através do tempo, você se encontra em um mundo novo e é possível ver as marcas do tempo nele e ainda assim a sua experiência pode ser recompensadora. Espero que você tenha gostado do que leu, se é que da pra chamar isso de review.
Pretendo continuar escrevendo futuramente sobre diversos games que gosto e também creio que voltarei a falar sobre essas joias perdidas que até mesmo foram ou não esquecidas pelo tempo.

Uma dica do game que eu pretendo falar sobre em um futuro talvez não muito distante:
“Na era dos antigos, o mundo estava deformado, coberto por nevoeiro. Uma terra de rochedos cinzentos, árvores antigas, e dragões eternos. Mas depois veio o fogo. E com o fogo veio a disparidade. Calor e frio, vida e morte, e claro… Luz e escuridão.”
