Texto feito originalmente em 31/10/2020 no Medium, e postado aqui para você conhecer Vampire: The Masquerade Bloodlines antes do tão aguardado segundo game da franquia.

Hoje estamos próximos do lançamento de um milagre, a sequência desse jogo, e nada mais justo do que falar sobre um game sinistro que eu amo de coração. Talvez eu o ame até demais. E o que dizer sobre esse game? Um jogo que, provavelmente, você não gostaria de jogar hoje em dia, não é? Imagine gostar de um jogo que foi lançado incompleto e entupido de bugs, e cuja própria empresa acabou pouco tempo depois do lançamento. Ainda assim, é, sem dúvida, um game fantástico, diferente, cheio de personagens carismáticos e uma história de outro nível.
Eu decidi apenas falar sobre o game sem revelar o enredo principal, sem dar dicas de side quests, e esconderei o máximo possível de informações sobre as missões do jogo, claro, com exceção de uma ou outra coisa que realmente mereça ser mencionada. Tentarei não dar nenhum spoiler. Saiba que é um game tão específico e, ao mesmo tempo, peculiar, não só por ter sido lançado próximo ao grandioso Half-Life e ofuscado por ele, mas também por hoje ser considerado um clássico dos RPGs, mesmo com todos os seus inúmeros problemas.
Antes de começar a falar de vez sobre Bloodlines, eu tenho uma pergunta a fazer: o que torna um jogo bom? Seria sua história? Suas mecânicas? Ou talvez a sua comunidade? Deixo essa pergunta em aberto. Não acho que seja algo que alguém possa responder com convicção absoluta, e muito menos algo simples o bastante para ser definido em uma única frase.

Vampire The Masquerade Bloodlines foi desenvolvido pela Troika Games, a publisher era a Activision e o game foi lançado para PC em 2004. A Troika Games era um estúdio americano que iniciou seus trabalhos geralmente focados no mundo dos RPGS, seu período de atividade foi de 1998 até 2005.

Mas enfim, o que é Vampire The Masquerade Bloodlines?
Well, whatever, nevermind, Vampire é um RPG/Action em primeira pessoa (você pode jogar em terceira pessoa também, é só mudar a câmera) onde o jogador é nada mais nada menos do que um fledgling, ou seja, um vampiro recém formado, e no game o player se encontra em um mundo com regras diferentes das quais estamos habituados, e nele existem diversas comunidades com seus próprios ideais e imposições sociais.

Os pilares da sociedade noturna são: A lei da Máscara e a Camarilla. Ah, já ia me esquecendo dos Anarquistas que são o “contrário” desses pilares por assim dizer.
Tentando resumir esses chamados pilares, fica mais ou menos assim:
A Lei da Máscara: Vampiros e seres sobrenaturais não existem, ninguém pode saber sobre os seres das trevas. Se você demonstrar seus poderes em público, se alimentar de humanos deixando que alguém perceba ou sair matando pessoas a todo momento, estará cometendo uma violação da Máscara. Além disso, atrairá caçadores de vampiros. Ah, um detalhe importante: se o jogador violar essa lei suprema três vezes, será sentenciado à morte!
Um fato interessante que esqueci de mencionar é que você precisa se alimentar. Se o seu personagem ficar muito tempo sem consumir sangue, ele entrará em um estado de transe chamado “Frenzy”. Tecnicamente, você vai enlouquecer: seu vampiro sairá correndo desesperadamente em busca de uma presa e, dependendo de onde estiver, provavelmente acabará violando a Lei da Máscara, e se colocando em uma situação terrível.

A Camarilla, o que falar sobre essa facção? Por onde eu começo? Bem, resumindo, digamos que eles estão no poder por muito tempo, eles já foram expulsos pelos Anarquistas tempos atrás e acabaram retornando mais fortes para Santa Monica e região, mas aonde você se encaixa nisso? Eu explico!
Eu aposto que enquanto estava vivo você não gostava de ser governado e ter que prestar serviços a alguém superior não é? Pois é… Digamos que no “pós vida” é assim também, a Camarilla tem o intuito de unir os vampiros e controlar territórios, gerenciando os clãs e criando leis para evitar a violação da Máscara e impor um limite ao poder dos outros grupos vampirescos, e claro, proteger a sociedade noturna, as vezes até mesmo dos próprios indivíduos se é que me entende.

Os Anarquistas, o que dizer sobre eles? Eles lutam contra a Camarilla, eles querem que cada vampiro faça o que quiser, que cada um cuide da sua própria vida, Camarilla? Quem precisa de regras quando se é um vampiro não é mesmo?

Agora que você já sabe quais são os pilares do mundo sombrio, ou World of Darkness, como os fãs da franquia o chamam, é hora de entender qual é o seu papel nessa história.
Você escolhe o clã com o qual quer jogar e, é claro, dependendo da sua escolha, a vida poderá ser mais difícil. Cada clã possui habilidades específicas e estilos de jogo distintos. Por exemplo: se você escolher o clã Ventrue, terá uma vida mais fácil quando o assunto for persuadir os outros, ou até mesmo controlar suas mentes. Caso escolha um Malkavian, será um vampiro lunático, sem muito sentido em suas ações, mas que proporcionará uma experiência completamente diferente das demais. É possível até conversar com a televisão do seu apartamento, aparentemente, ser maluco tem suas vantagens.
Agora, se por algum motivo (sabe-se lá qual) você decidir escolher um Nosferatu, bom… digamos que estará ferrado. Terá que se locomover pelos esgotos e evitar ao máximo ser visto pelas pessoas, justamente por causa da sua aparência. Esses pobres coitados geralmente vivem no esgoto ou em túneis subterrâneos sob as cidades. O importante é que ninguém os veja, afinal, eles costumam ser desprezados pelos demais clãs vampíricos.

Depois de você escolher o clã é hora de entrar no mundo das trevas, bem, você já entra de cabeça e sendo condenado a morte porque aparentemente o seu “criador” te transformou em um vampiro sem ter permissão, sim os vampiros tem que ter permissão da Camarilla para gerar outros vampiros, e graças a alguns eventos por aí você fica vivo e agora é claro, como todo bom RPG, você será o peão, sim, você vai entregar mensagens por aí, fazer o trabalho sujo e ser o capacho de vários poderosos vampiros, o game ainda lhe da a liberdade de realizar as missões de diversas formas, podemos usar as sombras para matar nossos inimigos sem sermos vistos ou podemos ir full berserker e quebrar o pau com geral. No meu caso eu gosto de usar a persuasão, fazer os inimigos de palhaços, é, a vida é mais fácil quando você é capaz de sair enganando e seduzindo para conseguir o que quiser.

Só pra você ter uma ideia de como a exploração de cenário é algo bem útil: logo no começo do game, se você for bom de lábia, pode conseguir uma boa quantia de dinheiro com o segundo NPC que encontrar.
O game é dividido em áreas relativamente grandes, na verdade, são cidades. Em cada uma delas, você terá missões secundárias, primárias e, claro, o clássico NPC vendedor. Sim, você pode comprar armas, remédios, sangue (é claro, você é um vampiro, queria o quê?) e outras coisas.

Falando em cenários do game, bom, tem alguns locais icônicos e que dificilmente quem joga esquece, como os Clubes noturnos, um hotel gigante cheio de gente rica e seguranças, o enorme arranha-céu do Príncipe da Camarilla, o barzinho dos Anarquistas, o edifício enfeitiçado do clã Tremere, dentre vários outros.

Um lugar específico que chama a minha atenção é um hotel abandonado chamado Ocean House.

O antigo hotel é assombrado e muita gente inclusive usava cheats para escapar do terrível destino de precisar entrar no assombroso hotel, se não me engano em 2004 a GameSpy declarou o nível “Ocean House Hotel” como Quest do ano.

O level design do game é muito bem feito pra época, aquela sensação de um lugar sombrio, sociedade em declínio e o sentimento de que todo mundo esconde algo é bem frequente. Os diálogos com os NPCS são muito interessantes e adicionam muito ao clima do jogo, cada personagem relevante para a história tem suas próprias características e suas próprias intensões sempre tentando levar a melhor e usando o jogador para atingir seus objetivos.

Algo que eu acho fantástico no game é o modo como a lore é contada, vários vampiros sussurram entre si e espalham algo que você acaba por ouvir sem querer e fica ecoando na sua cabeça onde quer que vá. Gehenna.
Afinal, o que é Gehenna?
Gehenna é, simplesmente, o apocalipse dos vampiros. Os Kindred, como são chamados aqueles que foram transformados, acreditam que os anciões, quanto mais velho um vampiro for, mais poderoso ele é; ou seja, a primeira geração tende a ser extremamente poderosa se comparada, por exemplo, à quarta geração, se levantariam de seus túmulos e começariam a devorar os demais vampiros até que não restasse nenhum.
A própria história do jogo gira em torno da repercussão dessa velha estória, ou lenda urbana, por assim dizer.

Outra coisa fascinante é que o game lhe dá escolhas, e você sempre fica pensativo em relação a elas. Se você errar em alguma coisa durante uma missão, a pessoa que a entregou ficará irritada com você. Existem escolhas até mesmo quando o fim do jogo se aproxima, e, claro, dependendo do que você decidir, pode ter um desfecho bem triste, e merecido, por assim dizer.

As habilidades do personagem variam bastante, desde invadir computadores até ter força extrema, e elas variam muito dependendo do clã escolhido: você consegue aguentar mais porrada, dar mais dano com armas de fogo ou intimidar os oponentes.
Cada clã tem algumas habilidades únicas e só é possível aprende-las sendo do respectivo clã, essas habilidades são chamadas de Disciplinas.

Ah, algo que eu gostaria de mencionar é que existem outros grupos de vampiros com intenções diferentes das dos Anarquistas e da Camarilla. Eles não têm ligação com as demais facções e são considerados inimigos. Seus ideais, convicções e objetivos são completamente diferentes, e há eras eles batalham entre si, e também contra a própria Camarilla, pelo poder.
Durante o game, o jogador terá que enfrentá-los. Digamos que, nesse caso, não há escolhas. O mundo de Bloodlines é repleto de criaturas sobrenaturais: vampiros, lobisomens, fantasmas, mortos-vivos, entre outros. É até surpreendente ver tanta variedade em um jogo de vampiros, mas, ao mesmo tempo, é natural o modo como esses seres coexistem nesse universo, diferente de outros por aí.

O combate do game é a parte que eu menos acho divertida. É uma ironia dizer que o jogo é bom, mas o seu combate não é lá essas coisas, certo? Bem, é meio difícil de explicar. Os controles são simples, nada muito complicado. As animações das habilidades são muito bem feitas para a época, e é superlegal ver o seu domínio mental em ação, fazendo os inimigos se matarem uns aos outros, cometerem suicídio ou entrarem em um estado de transe, ficando vulneráveis. Também é possível se transformar em uma besta selvagem e acabar com todos ao seu redor.
O jogo mescla bem a ideia de usar armas de fogo e armas corpo a corpo em um game com tema vampírico, mas é aí que a coisa começa a apertar. O combate com facas, tacos de beisebol e até mesmo braços de pessoas mortas é bem ruim. É difícil acertar os inimigos, e as animações dos ataques corpo a corpo são estranhas, você parece uma batata tendo um ataque epilético. Mas, graças aos itens de cura, é possível sair de diversas situações apertadas.
Geralmente, quando você tenta fazer algo sem ser visto, tudo desanda rapidamente, e inúmeros inimigos ao redor vêm pra cima de você de uma vez. É claro que, se você for adepto de um clã que use invisibilidade, as coisas ficam mais fáceis. Mesmo assim, ainda não dá pra dizer que o gameplay do jogo é perfeito, porque realmente não é. Está longe disso, e nos primeiros momentos em que você assume o controle do personagem já dá pra imaginar que vai dar merda.

(to em perigo)
Apesar de o combate ser bem “desengonçado”, todo o resto do game faz você se sentir bem com isso, por mais bizarro que possa parecer. Os diálogos, as interações com os clãs, a ambientação e o modo como você é tratado fazem tudo parecer perfeitamente conectado. Às vezes, me sinto como se estivesse vivendo em um universo que nasceu da mistura de Pulp Fiction com From Dusk Till Dawn.
Calma aí. Antes que você pense em me xingar por falar uma barbaridade dessas, deixa eu explicar uma coisa e ligar os pontos. Pra isso, vou precisar repetir algumas coisas, pra você entender melhor.
O game transmite uma vibe dos anos 90: todo mundo tem algo a esconder, ninguém se importa com os outros, e quando você acha que sua situação não pode piorar, ela piora ainda mais. Você vive recebendo ordens e não pode fazer nada quanto a isso. Acaba trabalhando como matador de aluguel noturno, se torna um agiota, guarda-costas, amante, brinquedinho de clube noturno e, se vacilar, ainda vira capacho das poderosas vampiras do jogo.
Os diálogos são muito bem escritos, lembrando um pouco as conversas engraçadas e naturais dos filmes do Tarantino. Tirando as expressões faciais um pouco exageradas do jogo, algo que considero “marcas do tempo”, em alguns momentos, durante as cenas de ação, a coisa desanda, lembrando justamente o famigerado From Dusk Till Dawn.

Isso é só um pouco do que você vai ver no game, e existe algo que eu preciso mencionar, sempre é preciso usar o diálogo para se dar bem e quando isso não funciona é um Deus nos acuda, mas sabe, é divertido, é algo que eu gosto, é simples e ao mesmo tempo complicado. Acho que de uma forma inconsciente esses podem ser os motivos de um game assim ficar na sua cabeça, mesmo que as vezes seja um pouco árdua a tarefa de ter que lidar com bugs ou com o combate meia boca, e isso faz com que eu me pergunte novamente: O que faz um game ser bom?

Resumindo, é um game incrível, com diversas possibilidades. Várias jogatinas com personagens de clãs diferentes tornam o jogo mais divertido e imprevisível. É uma pena não haver tantas opções de personalização do personagem, mas isso não interfere na experiência.
Os bugs, infelizmente, são uma realidade. Existem diversos mods feitos por fãs que mantiveram, e ainda mantêm, o game vivo até hoje. Um clássico dos RPGs, o amor que a comunidade demonstrou pelo jogo durante todos esses anos fez até com que surgisse um novo título, que atualmente está em desenvolvimento.
Em vários lugares, já li diversas vezes que Vampire: The Masquerade – Bloodlines é um game “cult”. Eu, pessoalmente, odeio esse termo. Acho, inclusive, que ele é muito mal utilizado e não faz jus, de forma alguma, ao jogo. A única coisa que posso dizer com certeza é que Bloodlines é algo diferente.

Mantenho minha opinião de que, hoje, em 2025, dificilmente você gostaria do game. O mundo evoluiu e a indústria dos jogos mudou, tanto para melhor quanto para pior. A busca incessante pelo melhor visual possível em um game acarretou no fato de que os gráficos impulsionam vendas. Em alguns casos, por exemplo, de jogos medíocres e sem conteúdo, o público prefere pagar quantias exorbitantes por um conteúdo deveras patético, simplório e, muitas vezes, repetitivo.
Com um olhar mais atento, é possível perceber que essa realidade triste e padronizada entre algumas empresas esconde a ganância de seus desenvolvedores. E também não dá para ignorar que, em certos casos, os jogos parecem ser desenvolvidos de forma a exigir que o jogador gaste dinheiro para avançar mais rapidamente, evitando um grinding desnecessário. Ou seja, a pessoa paga para deixar o jogo menos chato.
Na minha cabeça, isso é uma prática desnecessária. Sem contar o tão polêmico sistema de loot boxes, chamado de “mecânica surpresa” por empresas que vocês já conhecem muito bem.

O que eu quero dizer com isso?
É bem simples, as vezes esquecemos que os jogos são feitos para nos distrair dos problemas, eles são um lazer, não uma obrigação, jogos são o que são, ou deveriam ser ao menos, hoje com a “internet a todo vapor” você é julgado por preferir algo, por ter algo, ou até por não ter algo, seja um jogo ou um console, um exemplo disso é a famosa Console War, a guerra de consoles que vive distribuindo desinformação e desavença entre plataformas.

Eu sinto falta dos tempos em que eu não sabia de nada disso e apenas estava lá se divertindo em um jogo cheio de bugs, mas sem precisar pagar mais nada pra aproveitar o game do jeito que ele é.

Pontos Positivos:
- História muito bem escrita.
- Ambiente fantástico.
- Diálogos muito bem pensados.
- Uma lore aprofundada.
- Escolhas e consequências.
- Você realmente precisa prestar atenção aos diálogos ou vai se perder as vezes, ou até mesmo se ferrar por causa disso.
- Existem inúmeros mods que enriquecem muito o game além de remover bugs.
Pontos Negativos:
- Diversos bugs.
- Cenários um pouco confusos as vezes.
- Pode haver bugs durante quests fazendo com que você precise carregar o save novamente.
- O Combate corpo a corpo pode ser um pouco duro as vezes.
- A inteligência artificial pode ser bem lerda em alguns momentos.

Enfim, acredito que é um game fantástico e que vale muito a pena, ele foi feito para quem gosta de uma história intrigante e obscura saindo um pouco do padrão que a gente está acostumado a ver. Eu recomendo o game, claro, desde que você possa jogar com a mente aberta e não se importe tanto com bugs ou gráficos, eu diria que embarcar nesse game é como uma odisseia através do tempo, você se encontra em um mundo novo e é possível ver as marcas do tempo nele e ainda assim a sua experiência pode ser recompensadora. Espero que você tenha gostado do que leu, se é que da pra chamar isso de review.
Pretendo continuar escrevendo futuramente sobre diversos games que gosto e também creio que voltarei a falar sobre essas joias perdidas que até mesmo foram ou não esquecidas pelo tempo. (Mal sabia ele que anos no futuro teria um site com mais de 20 mil acessos, uma página no X com quase 10 mil seguidores, e uma parceria gigante)

Uma dica do game que eu pretendo falar sobre em um futuro talvez não muito distante:
“Na era dos antigos, o mundo estava deformado, coberto por nevoeiro. Uma terra de rochedos cinzentos, árvores antigas, e dragões eternos. Mas depois veio o fogo. E com o fogo veio a disparidade. Calor e frio, vida e morte, e claro… Luz e escuridão.”

